domingo, 12 de agosto de 2018

O Grêmio Estudantil Livre e a luta por direitos



Diante dos atuais ataques antidemocráticos que a escola pública vem sofrendo os Grêmios Estudantis são caminhos capazes de garantir a democracia na escola e contribuir para sua transformação positiva.  
A Gestão democrática deve permear todas as instâncias da escola. A ação do Grêmio Estudantil no Conselho de Escola tem papel importante na gestão coletiva, colegiada e democrática. É com a contribuição de todos que compõe a escola, que ganha sentido diagnosticar a realidade, planejar, tomar decisões, estabelecer horizontes, definir objetivos e escolher formas de ação para alcançá-los.
Na contramão dessas expectativas o que vemos hoje nas escolas paulistas são regulamentações cada vez mais excessivas, pressões advindas dos órgãos centrais do sistema estadual de ensino, que causam interferências negativas na vida e na organização das escolas. Isso se materializa em uma série de medidas, como por exemplo: Fechamento de escolas e salas de aula; Imposições curriculares e de abordagem no desenvolvimento dos conteúdos das distintas áreas do ensino; Imposição da matriz curricular; Tentativa de censura contra professores em sala de aula – “Escola Sem Partido! ”; Imposição de modelos de medição de desempenho dos alunos, que desconsideram o cotidiano das práticas educacionais, instaurando a competição entre escolas e conduzindo a uma avaliação disfarçada e errônea do desempenho docente; Excesso de burocracia a ser cumprido na escola – Secretaria digital, diários e múltiplos relatórios;  Imposição de modelos de avaliações e de recuperação; Imposição de formas externas de avaliação.
As escolas sofrem cada vez mais com o aprofundamento da crise que afeta seu cotidiano e que ganha expressão nos baixos índices de rendimento dos alunos em todas as avaliações externas existentes no país. As respostas implementadas pelas gestões (governos municipais e estaduais) sustentam-se no pressuposto de que a autonomia pedagógica e organizacional da escola é a grande causa dos seus problemas, e trazem como decorrência a ideia de que essa autonomia deve ser banida de modo radical.
Na medida em que a possibilidade das escolas definirem seus rumos vem sendo espezinhada, o conselho de escola e o Grêmio Estudantil, também vem perdendo seus espaços. Cada vez é menor o grupo de professores, estudantes e comunidade que acreditam valer a pena dedicar parte de seu tempo para pensar coletivamente os rumos da escola. Corremos o risco de vê-los se constituir em organismos burocráticos, vinculados a um sistema em que por meta a homogeneização do ato pedagógico e a uma submissão aos ditames e controle dos órgãos governamentais.
Os estudantes devem construir seu espaço dentro da escola, agindo  dentro e fora dos Conselhos de Escola, lutando pela escola pública e de qualidade. Essa organização de alunos ganha duas funções principais que não pode deixar de cumprir, a saber: 1- luta pelas reivindicações dos alunos da sua escola. Lutas que podem ser pela “sobrevivência” da escola (contra a reorganização e privatização) em uma determinada região, como tem ocorrido em praticamente em todo o país através de ocupação de escolas, ou exigindo contratação de professores, reforma nas salas de aula, aumento no número de livros da biblioteca, compra de mais computadores, etc.. ; 2- fortalecimento do movimento estudantil nacional, politizando suas intervenções e buscando novas experiências para construção de mobilizações de massa contra toda forma de precarização do ensino público para colocar a educação pública na pauta do dia da política brasileira, lutando contra a precarização do ensino, o aumento do financiamento público (10% do PIB para educação) e construindo uma sociedade democrática pautada nos direitos humanos.
Defendemos ano após ano, que somente a gestão coletiva, colegiada e democrática da escola pode ser constituir num caminho saudável para a organização e articulação do seu trabalho. Acreditamos que o Grêmio Estudantil, é um instrumento fundamental para o exercício das liberdades democráticas. A ação dos estudantes, dentro do Conselho de Escola ou fora dele, é um exercício de aprendizagem para a organização de outras formas de sociabilidades para superação da injusta realidade social vigente, pois é dentro dele que é possível diagnosticar a realidade, tomar decisões, estabelecer horizontes, planejar, definir objetivos e escolher formas de ação para alcançá-los.
Lutando por direitos fora da escola.
No decorrer do século XX, o movimento estudantil destacou-se exatamente por sua capacidade de transpor os muros das escolas e universidades e dar a expressão de massas a temas universais. Foi assim na França, em maio de 1968, quando o movimento estudantil expressou o questionamento e a crítica aos costumes e valores dominantes da época. No Brasil, o movimento estudantil esteve presente nos principais momentos da vida política do país. Foi assim na campanha "O Petróleo é nosso", na luta contra o nazi-fascismo na década de 40 ou contra a ditadura civil militar a partir de 1964; na defesa das eleições diretas ou na luta pela anistia dos presos políticos. Na defesa da redemocratização, o movimento estudantil esteve nas ruas. Não limitou suas reivindicações apenas aos temas relacionados à educação, sendo solidário com as lideranças operárias e populares na luta contra o regime militar. Os jovens participaram em peso desta manifestação que garantiu ao Brasil a redemocratização.
No embate entre repressão e resistência, os movimentos estudantis, foram pioneiros na retomada do espaço público com a luta pelas liberdades democráticas. As greves, formas tradicionais também da luta estudantil, permitiram maior visibilidade às suas reivindicações e contribuíram para que o movimento estudantil assumisse papel articulador nos diferentes movimentos sociais de resistência aos “anos de chumbo”, cujos algozes estatais assassinaram milhares de brasileiros que lutavam por dignidade.
Recentemente, os estudantes voltaram à luta contra os “ladrões de sonhos” da política brasileira. Em 2013,saíram às ruas lutando por educação, saúde e transporte de qualidade. Em 2015/2016, o movimento de ocupações de escolas tomou conta do Brasil. Mais de mil escolas foram ocupadas por estudantes que não se conformam com os rumos que a educação vinha tomando nos últimos governos. A luta é permanente.
Os desafios impostos aos grêmios estudantis e ao movimento estudantil está na  rearticulação das lutas por direitos em ressonância com os diversos movimentos sociais. Isto significa trabalhar pela rearticulação de ações a nível local, regional, estadual e federal contra as políticas neoliberais em curso no Brasil.
Nesse sentido, a luta pela implantação efetiva do ECA entra na pauta do dia. Embora tenha avançado em alguns aspectos, as políticas públicas estimuladas pelo ECA ainda são precárias. É preciso maior atenção e efetivação no investimento de recursos que priorizem a área social e a garantia efetiva das liberdades democráticas. O combate ao genocídio negro, o combate à violência policial, a implementação efetiva de uma educação pública de qualidade para todos, o combate às drogas, as ações de erradicação do trabalho infantil, a implementação de medidas socioeducativas e programas de oportunidades e inclusão para as famílias, além do atendimento às vítimas de abuso e exploração sexual, precisam ser concretizadas. 
È nesse contexto que, nós do MEOB, temos organizado e apoiado  os Grêmios Estudantis e sua participação efetiva, juntamente com os diversos movimentos sociais, nas instancias democráticas que surgem em nosso território.   
A  IX Conferência Lúdica Convencional
A IX Conferência Lúdica Convencional teve como principal viés mobilizar e escutar as crianças e adolescentes na promoção de seus direitos. Os participantes debateram as mazelas sofridas pelas crianças e pelos adolescentes em seus respectivos bairros da zona sul da capital. Discutiram também soluções para a diversidade  de problemas levantados propondo encaminhamentos para a próxima etapa da  conferência. Cabe salientar que tais propostas, se aprovadas, farão parte da Política Nacional e o Plano Decenal dos Direitos Humanos de Crianças e Adolescentes, que contribuirá para o fortalecimento dos Conselhos dos Direitos da Criança e do Adolescente.  
Nossos adolescentes tiveram a oportunidade de denunciar o estado brasileiro, como o principal violador de direitos. A inexistência de espaços de diálogos, a precarização da escola pública, a violência policial, a violência e a letalidade das drogas, a falta de transporte público de qualidade, a falta de creche, a falta de moradia, a falta de estrutura para cultura, lazer e esporte entre outras, foram os problemas denunciados. Elaboraram dezenas de encaminhamentos como propostas para sanar tais problemas, elegeram também delegados para representa-los nas próximas etapas da conferência.   
Continuaremos dando todo o respaldo possível à essas crianças e adolescentes guerreiros, pois acreditamos que o Grêmio Estudantil, é um instrumento fundamental para o exercício das liberdades democráticas. Essas ações é que garantirão às gerações futuras o exercício democracia plena e construção de novas formas de sociabilidade, quiçá, distante desse mundo enraizado nos valores do capital.

Professor Claudemir Mazucheli Canhin - EMEF Constelação do Índio

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